Web semântica é um conjunto de tecnologias que permite interligar dados na web. Dessa forma, bem simples, Ivan Herman, responsável pelos estudos de web semântica do W3C, definiu o conceito, visto por muito anos como um enigma.
O pesquisador participou como palestrante do Café com Browser, evento organizado pelo escritório do W3C Brasil, na manhã desta sexta-feira, em São Paulo.
Por um conjunto de tecnologias, entenda-se algumas já existentes, como RDF e SPARQL. E por dados, informações públicas de todo tipo em formato aberto.
Como exemplo prático, Herman citou a BBC Music, que utiliza informações de banco de dados abertos para construir o seu site. Os perfis dos artistas, por exemplo, são criados com conteúdo do verbete equivalente na Wikipedia, além de músicas disponíveis no MusicBrainz.
Segundo ele, até hoje o conceito de web semântica assusta muita gente. Isso acontece porque, em seu início, ele foi explicado de forma errada, muito complicada. Deu-se muita ênfase à questão da ontologia.
Parecia que eram necessários diversos doutores e PhDs para poder desenvolver algo ligado à web semântica, enquanto que as coisas poderiam ser bem mais simples.
As tecnologias para a realização da web semântica já existem. RDF, tecnologia que permite a interligação de dados, por exemplo, existe desde 1999 e a sua estrutura não é difícil de ser explorada e estudada, segundo Herman.
Para ele, um ponto de virada em relação ao conceito de web semântica aconteceu em 2008, quando o movimento sobre linked data (dados interligados) passou a descomplicar o discurso.
Neste sentido, uma série de conferências sobre web semântica realizadas nos EUA, voltadas mais para negócios, ajudou a desmitificar o conceito.
Além de descomplicar, o que achei interessante na apresentação de Herman foi que ele levantou a questão do “efeito de rede” nos dados.
“Efeito de rede” é uma dinâmica bem comum na internet. O valor que um usuário dá a um produto depende de quantas outras pessoas estão usando-o. Por exemplo, quanto mais pessoas utilizam o Facebook e o Google, melhores eles ficam, mais sentido há em usá-los
A mesma coisa acontece com os dados, quanto mais pessoas os utilizam, mais valiosos eles ficam. Recentes projetos de web semântica têm deixado isso bem claro.
Durante a apresentação e as posteriores perguntas do público, Herman deixou de lado a bola de cristal, optou por não prever o futuro dos “dados interligados”.
Mas cogitou que a web semântica vai enfrentar alguns desafios, como a própria questão da privacidade e da ética no uso dos dados. Quando você disponibiliza dados públicos na web, abre espaço para que eles sejam usados de todas as formas inimagináveis.
Além de, claro, um problema comum a outras áreas do conhecimento. Apesar da web semântica ser algo descomplicado, na sua visão, ainda faltam especialistas na área, pessoas que entendam as tecnologias e realmente saibam colocar a mão na massa.
Para quem quiser, dá para baixar os slides da apresentação de Herman.
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